"Demorei-me a contemplá-las, sob aquele céu clemente, a ver as borboletas esvoaçando por entre urze e as compânulas, a ouvir a brisa suave soprando através da relva e a pensar como poderia alguém imaginar, sequer, sonos agitados sobre aquela terra."
Emily Brontë

7 de outubro de 2013

  Naquele dia ele contou-me o desejo de descer a falésia e pintar as gaivotas pousadas na água. A pintura estava quase acabada, dizia-me ele, bastava descer um pouco até estar à altura do sol antes de este se deitar no oceano. Olhou-me com os seus olhos, leitosos da idade, castanhos e cansados de focar a vista.
  Hesitei, mas vi a forma como se tinha dedicado àquela obra, e compreendi-o. A ideia de não voltar a ser olhada com tanto carinho percorreu-me e assombrou-me, pelo que disse que sim, num sopro de voz. Sorriu para mim e eu suspirei de satisfação. Acompanhei-o até à borda com algum custo, e vi-o a contemplar as aves, algo apressado. Comecei a descer com ele, e senti a sua respiração alterada da emoção, ao mesmo tempo que via o pedaço de papel a querer escapar por debaixo do seu braço. 
  Finalmente, pousei o pé num sítio que me pareceu seguro, e olhei em frente. A vista cortou-me a respiração e o meu coração tocou-se de tal modo que me vieram as lágrimas aos olhos. 
  Agora que via de mais perto, conseguia ver a água lá em baixo a criar espuma nas ondas, uma e outra vez. Os pedacinhos de céu refletidos na água confundiam-se com a forma das nuvens. E os sons, a espuma e as gaivotas harmonizavam de um modo nítido, e ao mesmo tempo surreal. 
Sequei as lágrimas com as mãos, envergonhada com a minha sensibilidade perante aquilo, mas feliz.
  Olhei para o lado e pude ver a folha desenhada a escapar do braço dele, e vi-o enclinar-se para a apanhar.
O momento demorou.. e pude vê-lo cair. Os seus olhos a perderem a expressão, a folha deixando-se ondular ao vento, enquanto as suas mãos ficavam vazias. Enquanto os meus gritos se tornavam mudos naquela imensidão, eu vi-o. 
  E lembro-me de pensar, louca de dor perante a cena que me cortou o coração.. Que lugar tão cruel e lindo para se ter um último olhar sobre o mundo.

3 comentários:

  1. Rita... Eu fico cada vez mais impressionada com os teus textos. Eu não tenho tido tempo para poder escrever no meu blogue, mas vale mesmo a pena ler o teu. Belíssimo! Todas as tuas palavras transmitem-me algo, e esse "algo" aquece-me sempre o coração. Estou a morrer de saudades. Espero que continues a escrever pois tens muito talento! Muitos beijinhos e abraços, e até amanhã <3

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  2. P.S.: Adoro a música, lembras-te...? <3 <3 <3

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  3. voltei a usar o meu blog entre la pff e me dê dicas do que devo postar agr
    http://renata13silva.blogspot.com.br/2014/01/voltarei-postar.html muito obrigada e um grande beijinhoo

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