"Demorei-me a contemplá-las, sob aquele céu clemente, a ver as borboletas esvoaçando por entre urze e as compânulas, a ouvir a brisa suave soprando através da relva e a pensar como poderia alguém imaginar, sequer, sonos agitados sobre aquela terra."
Emily Brontë

20 de dezembro de 2012


Numa época dificil da minha vida, eu vivi num condomínio agradável. O sol aquecia a minha casa de manhã e durante o dia mantinha-se quente. O único ponto que não me agradava era a paisagem. Em frente à minha casa estava um prédio muito alto, que me impedia de ver o céu.
No entanto, uma senhora idosa via uma vista encantadora todos os dias ao acordar, dizia-me. Era invejada pela vizinhança. Passava os dias num café, e eu juntava-me a ela aos fim-de-semana.
Era uma pessoa interessante. Segunda-feira vestia um vestido vermelho, terça-feira um vestido verde, e assim sucessivamente. Ao domingo retomava a rotina. Explicou-me que o dia-a-dia é assim. Repete-se, mas todos os dias acontece algo de diferente, como a vida do lado de fora das paredes da sua casa. A senhora gostava de observar a bela avenida que se estendia diante dela. Os donos passeando os seus cães de manhã, o sol iluminando o dia, as pessoas atarefadas.
Gostava especialmente do Natal, quando via famílias, após um longo dia, sentarem-se em frente das suas janelas beberricando chávenas de chocolate quente. Observava o mundo do qual antigamente fizera parte. Contou-me um dia que a sua vida monótona preenchia-se com a agitação da linda avenida. E devo confessar que a minha também.
Nunca visitara a casa da minha amiga, realmente não conhecia o local de que ela falava.
Mas pouco me importei, aquelas conversas sabiam-me tão bem. Ela e os seus relatos foram, sem quaquer dúvida, ajudas preciosas na recuperação da minha alegria.

Um dia, encontrei-a pela última vez no café habitual. Contou-me que iria mudar-se rapidamente para casa da sua filha, no Brasil."Quando acordei, a avenida estava encantadora. Tão fresca da chuva que caiu ontem. Será que soube que me vou embora e se pôs bonita para mim?" brincou. Despedi-me da minha amiga, que me tinha encantado e preenchido de alegria durante aquele tempo.
Pouco depois, casa foi comprada, e os vizinhos acorreram logo, tal como eu, para ver a linda avenida, com cães, sol, pessoas e chávenas de chocolate. Com os olhos a brilhar de expectativa, espreitei pelos cortinados da sala.

Só vi um prédio muito alto.

baseado no conto "A Janela"

13 comentários:

  1. Obrigada pelo comentario! Vou agora escrever um trend report...
    Caso o mundo acabe amanha, quero só dizer que te adoro, agradeço tudo o que fizeste, peço desculpa e perdoo-te por tudo ;)
    Bjs!

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  2. Muito obrigada pela força. Eu também sei que sim. Um feliz natal
    Adorei o texto :)

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  3. O texto estava lindo.Adoreio :D
    Um beijinho e um feliz natal.

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  4. Óh, muito obrigada. É uma fase irá acabar por passar.

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  5. Tão distinto e tocante, gostei de verdade. As vezes não é a paisagem que fascina, mas os olhos que percebem a realidade que a torna fascinante. Beijoss

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  6. ainda bem que gostaste :)

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  7. Um texto realmente lindo! Aquilo que os nossos olhos veem, depende de nós.
    Obrigada. Oh, eu gosto de tudo um pouco. Estava a pensar começar com um que acabei de ler, "antes de adormecer" de s.j. watson, conheces?
    Depois logo ia vendo, desde romances a dramas, ficção e fantasia, entre outros. Desde que seja um bom livro, eu gosto. Tens alguma sugestão?

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  8. Obrigada querida, fico muito feliz.
    Adorei, está lindíssimo!

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  9. Obrigada querida :) também sigo o teu blog e este texto está lindíssimo. Tens jeito.
    Bisous

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  10. Nunca escrevemos demais, e agradeço imenso o teu comentário lindo. Nicholas Sparks é o meu escritor preferido, sem dúvida que a escrita dele me fascina e a forma como ele é capaz de descrever as nossas emoções e sentimentos mais profundos, considero-o isso tão único e raro. Nem todos são capazes de o fazer. Vou dar aqui a conhecer alguns dos que mais gosto dele, mas também quero variar um pouco para que não se torne algo "demasiado monótomo e previsível", se é que me entendes. Acho que nunca li "As Mil e Uma Noites", mas quem sabe se vejo o livro e acabo por o ler também. Penso que fábulas são para todas as idades, desde que as saibamos ler e ver o que elas nos ensinam.
    Vou esperar que a sondagem acabe (penso que é amanhã) e aí vou escrever um post a começar a rubrica, se conseguir. Até agora ninguém votou em "não gosto" por isso penso que é um bom sinal. Se quiseres ir dando a conhecer mais livros ou assim, já sabes (:
    Em relação ao texto, é um pouco de imaginação com aquilo que sou, vivo e vejo os que me rodeiam viver. Penso que é uma mistura de tudo isso. Também acho isso, que quando sofremos deve chegar uma altura em que certas perguntas têm de ser feitas. Enfim, obrigada de novo, e um beijinho*

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