Num misto de saudade e tristeza, voltei à casa rodeada de longos campos. A minha curiosidade moveu-me, e acabou por me vencer. Os fragmentos dos momentos que ali passara habitavam agora na minha memória,
e entraram pela porta da tristeza.
Passara apenas um ano, e mesmo assim, o meu coração sentia-se de um modo totalmente diferente, e na minha mente, os pensamentos que dantes me cobriam, dispersaram-se e não voltaram, sem que eu me apercebesse.
O lugar estava igual, no ar ouvia até as conversas trocadas e os sorrisos que estendemos naqueles dias, como se tivessem sido ditas há pouco.
Reparei nas flores, nas cores vivas, e no frio que avermelhava a minha cara.
Os caminhos pelos trigais estavam intactos, tal qual como os haviamos deixado.
Senti-me a desfalecer ao reparar no pedaço tão grande que faltava na minha alegria.
A flauta ao longe tocava sem cessar, sem falhar uma nota sequer.
Subitamente, senti uma presença que me trouxe um odor característico. Voltei-me, mas não estava ninguém. Ouvi uma voz doce e meiga a aconhegar-me e a afagar-me dizendo que tudo estava tão bem como dantes, até eu. Vi o pastor, a tocar a sua flauta, bem afastado. Passavam os meses, os anos, as épocas de frio, de calor, as minhas alegrias e melancolias, e o pastor ali continuava, apresentando uma grande fidelidade à sua forma de viver, e com um sorriso sacudia o polén do chapéu.
Começou a chover, e eu permaneci no mesmo sítio, enquanto a voz me trazia um grande chapéu de chuva, e me abrigava. Dei-lhe a mão, e ficámos, até a chuva parar.
Olhei para o céu. Azul, sem nuvens, sempre calmo, sempre sereno. Por detrás das tempestades, sempre claro.
Assim como eu seria, enquanto quisesse.
Também gosto imenso dos livros dele
ResponderEliminarQue lindo! gosto de imaginar tudo como se eu pudesse tocá-lo, entrar na casa e sentir o frio saindo pela janela e o odor das flores. Adorei :)
ResponderEliminarEscreves muito bem! Arrepia. (:
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