"Demorei-me a contemplá-las, sob aquele céu clemente, a ver as borboletas esvoaçando por entre urze e as compânulas, a ouvir a brisa suave soprando através da relva e a pensar como poderia alguém imaginar, sequer, sonos agitados sobre aquela terra."
Emily Brontë

28 de março de 2012

Enquanto jovem, sempre se considerou um homem bom. Um homem preocupado, bastante atento e talvez um pouco ingénuo, por vezes. Sempre sorridente, cada frase que dizia era acompanhada por uma palavra simpática, e sincera, é claro. Estava sempre acompanhado, pudera, com aquela frescura e alegria não havia quem não tudo fizesse e dissesse para estar com ele e receber da sua atenção.
Porém, os anos passaram, e ele tornou-se um homem sério, contido com as amizades que fazia e com o que dizia. Pequenas rugas se formaram lentamente à roda dos seus grandes olhos azuis, e o seu corpo que costumara ser forte e robusto, enfraqueceu. Tornou-se mais calado, apenas falava quando julgava que o que iria dizer teria interesse para os restantes. Com o passar do tempo, tornou-se um homem angustiado pela solidão. Não casara, não tivera filhos, e, devido a ser pouco apreciador de espaços apinhados, não tinha amigos. Aqueles a quem ele podia chamar de família viviam no estrangeiro, parentes afastados, cada um com a sua vida.
Estava só. Estava só, e sabia-o.
Vivia num bairro, rodeado de pessoas, umas simpáticas, outras não tanto. Mas isso não o preocupava, nem tão pouco ocupava os seus pensamentos e reflexões. Não gostava de tecer opiniões sobre as pessoas sem as conhecer, e como não as conhecia, não tinha. Mas todas elas reparavam nele. Um pobre senhor. Amável, embora demasiado calado para a idade -  diriam umas. Desinteressante e pouco simpático - diriam outras. Mas ele não as ouvia, a sua audição, tal como os seus outros sentidos, já não era a mesma.

Ele estava só. E essa solidão era vivida por ele apenas, mas à sua volta permanecia um enorme grupo de pessoas. Os seus dias eram passados rodeados de conversas, de risos, de sorrisos, de relatos de viagens e de vidas.
Mas ele estava só. Ele caminhava, mas não sabia o caminho. Sentia a sua pele roçar com outras, sentia-se empurrado, diversas malas pesadas embatiam contra as suas pernas curtas, seguidas de um pedido de desculpas apressado. O homem caminhava, sem sequer levantar os olhos do chão. Caminhava, mas não para poupar gasolina, nem para chegar mais rapidamente à escola ou ao emprego.
Caminhava para passar o tempo, caminhando infinitamente numa estrada onde os seus passos de nada valiam. Eram apenas passos, e não eram eles que o fariam chegar mais rapidamente àquele grande portão, aquele portão que fazia a passagem para um mundo chamado felicidade, um portão que cada vez lhe parecia mais longínquo.


 
 

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