"Demorei-me a contemplá-las, sob aquele céu clemente, a ver as borboletas esvoaçando por entre urze e as compânulas, a ouvir a brisa suave soprando através da relva e a pensar como poderia alguém imaginar, sequer, sonos agitados sobre aquela terra."
Emily Brontë

1 de fevereiro de 2013



Ela tinha um pescoço esguio. Com os olhos escuros observava as montanhas solitárias contruídas á sua frente. Eram belíssimas, altíssimas, e avassalava-me a repulsa com que a rapariga de longos cabelos ruivos as olhava.
As árvores agitavam-se e as folhas arrancavam-me suspiros compridos quando ela tocava no violino.
Os olhos tornavam-se turvos, a íris desaparecia e os seus braços moviam-se numa agonia por dentro dela que se controcia e retorcia.
A terra estremecia ao silêncio dos seus lábios finos. As suas mãos arrefeciam a fria parede de mármore quando a tocavam.
Ela dorme agora, jaze na sua cama e respira fundo, num sopro brando. O violino está pousado junto a ela, seduzindo com as suas cordas. Vejo as sombras refletidas no rosto dela e lembro o tempo em que a claridade do sol resplandescia no seu olhar. O mar luzidia.
Ao longe ouço a cascata gotejar, pingar, a água a cair, por entre pedras e rochedos. As montanhas roubaram à casa a luz que tinha.
A sua pele é clarinha e até macia nas maçãs do rosto. Reparo nas suas pálperas fechadas, nos seus lábios finos. Estou na escuridão deste quarto, junto a si. A chuva começa agora a cair lá fora e molha as árvores, que cantam num triste assobio. E eu permaneço aqui, isolando-a, protejendo-a do mundo exterior e envolvendo-a no calor dos meus braços.

8 comentários:

  1. Gostei imenso do teu texto rita. Acho que a música que escolheste é perfeita assim como a imagem. O teu talento é único. Consegues tornar objetos, pessoas, paisagens simples em algo muito mais bonito e formoso por muito mais singelo seja o assunto de que falas. Quem dera ter tal inspiração. Espero conquistá-la alguma vez na vida, como tu a conquistaste agora e que continuas a aperfeiçoar. BJS, Rosarinho.

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  2. Obrigada! Sim, fui eu que escrevi o texto das bailarinas, mas baseado em coisas que ouvi e li de varias pessoas.
    Gostei muito deste texto, escreves sempre coisas muito inspiradoras e que eu gosto muito de ler. Beijinhos

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  3. Este texto que tu escrevestes com o teu lápis e as tuas mãozinhas, está lindo, magnífico, digno de uma escritora profissianal.
    A música também é muito bonita.
    Beijinhos fofinhos!

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  4. Nomeei-te no selo do Liebster Award. Espero que gostes das minhas perguntas :)

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  5. De nada.
    Tens que fazer tal como eu. Mas vê as regras e de certeza que percebes.

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  6. "A chuva começa agora a cair lá fora e molha as árvores, que cantam num triste assobio." - adorei. Escreves coisas lindas de morrer!

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  7. Dona Ritinha o que faço com você ein?
    Moras aonde? perto das montanhas e dos rios mais longilíneos? Que descrição perfeita é essa? Imaginei essa garota com uma facilidade que somente uma descrição dessas para nos abrir a imaginação. Que ternura em cada palavra, tu me encantas tanto... que tal colocar o nome do blogue de Inspirações? Sei que já havia falado sobre esse nome mas sei lá, você é tão intensa... me deia hipnotizada por cada palavrinha. Só acho que o layout devia ser uma floresta toda misteriosa ou um vale bem suntuoso com um rio esverdeado e cheio de brilho! Brincando amiga rsrs é que suas descrições me fazem flutuar na fantasia!!!!!!!!! Beijossssssssssssssssssssssss

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